sexta-feira, 21 de agosto de 2009

BABALORIXÁ - Eu quero ser um Babalorixá!

Eu quero ser um Babalorixá!

O título deste artigo é prosaico – “eu quero ser um Babalorixá” – entretanto, o assunto é de grande relevância em nosso entender.
Defendemos a tese que os sacerdotes devem buscar a reflexão do ponto epistemológico, sem que isso importe em elucubrações distorcida.
Destarte, caminho e peço vênia às respeitáveis autoridades do candomblé em especial aos Babalorixas nacionais.
Sacerdotes! Estamos a pensar no futuro do candomblé e é impossível deixar de perquirir qual o modelo de Babalorixa(s) ideal para a peculiar atribuição.
A primeira questão de ordem é se existe um paradigma, a resposta é não, porquanto a natureza da atividade é extremamente subjetiva e aqui reside a lacuna base.
No Candomblé do Brasil, assim como as famílias da Monarquia Hereditária o trono é sucedido pelas pessoas do sangue real. Logo, isso prevalece o status quo e presumimos a manutenção da liderança. Se é eficaz ou não é outro tema a ser discutido.
Não temos dúvidas de que o Babalorixá deve preencher requisitos objetivos internos e externos para sua admissibilidade como “pai-de-santo”.
Para habilitação de Babalorixá o candidato deve preencher os seguintes itens concomitantemente:

a) Uma pessoa natural;
b) Personalidade e capacidade de gozo e exercício - reconhece à pessoa de ser titular e de poder exercer pessoalmente os direitos e deveres na ordem civil;
c) Maturidade espiritual e social – em razão deste item os relativamente incapazes não tem a faculdade do exercício de um Candomblé, porquanto são pessoas em estado de peculiar desenvolvimento;
d) Obrigação mínima de sete anos;
e) Cognição filosófica e histórica da religião;
f) Exercer atividades no Candomblé;
g) Notável saber religioso, reputação ilibada e conduta proba na sociedade.

Não temos dúvidas de que se trata de um rol exemplificativo e podem somar-se outros itens. Contundo, a exclusão de um dos itens requer muita atenção, especialmente quando estamos a tratar da ética.
Um Babalorixá necessita alinhar também a sua integência – QI – com a inteligência emocional – QE.
Na transmodernidade a capacidade de compreender outras pessoas é pedra fundamental para o Ilê Orixá, interessante o resumo de Howard Gardner, Multiple Intelligentes, p.9. “entender outras pessoas: o que as motiva, como trabalham, como trabalhar cooperativamente com elas.
As pessoas trabalham em (...) e líderes religiosos bem-sucedidos provavelmente são todos o indivíduos com alto grau de inteligência interpessoal. A inteligência intrapessoal (...) é uma aptidão correlata, voltada para dentro. É uma capacidade de formar um modelo preciso, verídico, de si mesmo e poder usá-lo para agir eficazmente na vida.
O Babalorixá assume papel base no saber, poder, tempo e autoridade na educação do ilê orixá, preleciona João Maria Betania que “esse conjunto de saberes é transmitido de uma geração a outra por meio da oralidade, nas relações diárias que conformam o advento da experiência e a apreensão da memória coletiva (...) fontes primordiais dos saberes dessa religião” e mais 1) o uso do segredo como estratégia de preservação de tradições culturais e como conteúdo da educação de natureza iniciática; 2) a aprendizagem das tradições é processual, acontece na vivência cotidiana do terreiro, por meio da oralidade e mediante o advento da experiência; 3) a ausência de estratégias facilitadoras ou didáticas para o ensino-aprendizagem, já que o saber é transmitido espontaneamente e somente quando um adepto está em um determinado estágio de desenvolvimento; 4) a educação com a função de transmitir de uma geração a outra os conteúdos culturais da religião, preservando-a.
Como líder máximo no Candomblé (no seu Ilê Orixá) o Babalorixá é aquele que define a hierarquia, determinado aos sacerdotes graduados as responsabilidades administrativa e espiritual, entretanto, em razão do princípio da equidade todos filhos da casa adquirem o direito de receber todos os ensinamentos, assim surge princípio da socialização do saber.
No magistério de Reginaldo Prandi (2005, p. 20), em um estudo sobre tempo e autoridade no Candomblé, afirma que muitos dos conceitos básicos que dão sustentação à organização da religião em termos de autoridade religiosa e hierarquia sacerdotal “dependem da noção de experiência de vida, aprendizado e saber, intimamente decorrentes da ideia de tempo ou a ela associados”. Por esse motivo, refere que as noções de tempo, saber, aprendizagem e autoridade são as bases do poder sacerdotal do Candomblé.
Cremos que a relação entre o Babalorixá e seus filhos espiritual muda a cada dia e a imagem tradicional, onde o Babalorixá exercia o comando da família espiritual, no qual os filhos lhe deviam obediência alterou-se completamente pela ideia de igualdade. É óbvio que ainda os filhos lhe devem respeito e muitas vezes admiração.
Este fenômeno ocorre em duas linhas: a) na hierarquia horizontal; b) na hierarquia vertical.
Este novo conceito (igualdade) surge em razão do amadurecimento da sociedade, entretanto existiram ou existem absurdos cometidos em alguns Ilê orixá, nos quais filhos e irmãos eram humilhados e tratados como objetos e empregados. Parece ironia, mas o próprio candomblé na sua estrutura interna fomentava um tipo de escravidão odiosa.
Não temos dúvidas que além das responsabilidades já elencadas anteriormente, o novo Babalorixá precisa acima de tudo entender os aspectos objetivos e subjetivos da personalidade dos filhos e até mesmo dos clientes que buscam seu apoio para solucionar conflitos é preciso empatia. Não obstante a isso, se faz necessário acima de tudo ter prazer na relação social e repelir as suas discriminações.
As pessoas vão ao Candomblé por diversos motivos, muitos deles certamente equivocados, todavia outros se amoldam ao perfil do Candomblé.
Neste momento discutimos a função do Candomblé e o papel do Babalorixá, em síntese digo que a religião tem como fundamento alimentar o sacerdote para que cumpram integralmente o seu destino, de modo que o Babalorixá é o orientador/educador para alcançar a tarefa (lembro que é uma sinergia: sacerdote – candomblé – e babalorixá com mesmo objetivo).
Em suma é indispensável ao candidato à Babalorixá estruturar um Ilê Orixá com uma Missão, uma Visão e permeado de Valores - éticos, moral e príncipiológicos.
Cremos que o grande desafio do Baba é apoiar e orientar as pessoas a controlar com eficácia os seus sentimentos importunos cito a ansiedade, depressão, raiva pessimismo, rejeição, arrogância e a percepção de solidão.